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Sobre o sentimento de vazio

Falar sobre o “vazio”, para mim, às vezes parece bastante contraditório. É como se estivéssemos procurando algo no nada – uma causa, uma resposta, ou mesmo um pingo de razão para entendermos a existência de algo tão paradoxalmente concreto e denso, que é o sentimento de vazio. 


Ele é o desespero de nos vermos frente às faltas: a falta de emoções, a falta de experiências, a falta de ganhos, a falta de perdas; talvez o sentimento de vazio possa ser definido como “a falta da falta”, isto é, a falta de nos sentirmos vivos.


Penso que, para qualquer tentativa de compreensão sobre o que diabos se trata esse sentimento (se é que podemos chamar ele de "sentimento"), devemos, antes de tudo, nos perguntar sobre o que poderia preencher este vazio. Seria dinheiro? Carros? Viagens? Amizades? Amores? Ou, de repente, uma refeição diferente que possa pelo menos preencher o vazio no estômago?


No final, pode ser que o vazio seja produto justamente do que ainda, no fundo, não sabemos que queremos. Talvez seja por isso que tantas vezes tentamos silenciá-lo com distrações – seja com o consumo desenfreado, com a busca incessante por validação ou com a rotina exaustiva que nos impede de parar e olhar para dentro. No entanto, o vazio não se dissolve tão facilmente. Ele persiste, reaparece nos momentos de pausa e se infiltra nos instantes de silêncio, lembrando-nos de sua presença inevitável.


Enfim, o vazio pode doer - e muito. Mas será que suprimir o buraco que ele representa é, realmente, a melhor alternativa? E se, em vez de tentar fugir dele, tentássemos escutá-lo? O que o vazio teria a nos dizer? Ele pode ser um chamado, um convite para que possamos nos perguntar o que, de fato, desejamos. Afinal, sentir-se vazio não é necessariamente não ter nada dentro de si, mas talvez não conseguir dar nome ao que está lá.


Pode ser que o problema não seja exatamente o vazio em si, mas a angústia que ele provoca. E essa angústia pode ser um sinal de que algo em nós deseja transformação. Talvez, então, a resposta não esteja em preenchê-lo com qualquer coisa, mas em compreendê-lo, sustentá-lo e, quem sabe, permitir que ele nos guie para algo novo – algo que faça sentido, que traga autenticidade, que não seja apenas mais uma tentativa desesperada de calá-lo.


O vazio, no fim das contas, pode ser menos um buraco e mais um espaço. E espaços, quando bem cuidados, podem se tornar morada.




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